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História Mundial do Boxe

Coisas que não podemos deixar de levar em conta


Muitos tipos de boxe

Enquanto que o uso dos punhos como arma em brigas de rua deve remontar aos primórdios da Humanidade, os mais antigos documentos evidenciando a prática de pugilismo como esporte tem entre 4 000 a 5 000 anos, e foram encontrados na Suméria ( civilização que desenvolveu-se na região do atual Iraque ) e Egito. Entre esses antigos documentos existem várias terracotas escavadas pelo arqueólogo Dr. E. A. Speiser em Sinkara e Khafaji - hoje em exposição no Museu do Iraq - e inúmeros afrescos funerários egípcios, como os que podemos visitar em Beni Hasan. São também muito variadas as regiões da Terra onde desde os mais remotos tempos se sabe da existência de técnicas pugilísticas.

Assim que existem, ou ao menos existiram, muitos estilos de pugilismo: o dos sumérios e babilônios, o egípcio, o minóico, o grego, o etrusco, o romano, o francês, o chinês, vários tipos de boxe indianos ( o boxe muki, o malla-yudha, etc ) etc, etc.

O boxe que nos interessará aqui: o boxe inglês

Por brevidade, nos limitaremos a tratar apenas da origem e evolução daquele pugilismo que hoje denotamos simplesmente por "boxe" e que, para sermos mais precisos, deveríamos chamar de "boxe inglês". 
Geograficamente falando, a história do boxe inglês teve três grandes etapas: 
• origens e desenvolvimentos iniciais: Inglaterra entre 1000 e 1850 dC 
• centrado nos USA: de 1850 a 1920 
• difundido pelo resto do mundo: a partir de 1920, aproximadamente.

Existiram várias regras regendo as lutas de boxe

Ao longo dos tempos, o boxe inglês foi lutado sob três tipos de regras: as Regras de Broughton ( introduzidas em 1743 ), as Regras de Londres ( introduzidas em 1838 e modificadas em 1853 e 1866 ) e as Regras de Queensberry ( introduzidas em 1867 e que já sofreram várias alterações ).

Mas o que é realmente importante apontar desde já é que, essas regras influiram decisivamente nas técnicas de combate ( guarda adotada, socos preferidos, defesas usadas etc ), na duração das lutas, na frequência com que um lutador atuava e até no tipo de pessoas que se dedicava ao boxe. Só para adiantar um exemplo: na metade do século vinte existiam muitos profissionais com mais de 100 e até 200 lutas, enquanto que até a época das Regras de Londres, como se lutava sem luvas, raramente um boxeador chegava a fazer 20 lutas em sua vida.

As apostas muito influiram no boxe

Conforme veremos em detalhe mais tarde, a origem e evolução do boxe inglês foram determinadas decisivamente pelas apostas em dinheiro. Ora, como reclamava o mais famoso boxeador do século XIX, John Sullivan, a mistura de dinheiro com o pouco gabaritado público do boxe sem luvas produzia uma mistura explosiva que resultava em frequentes distúrbios públicos: antes, durante e depois das lutas. Isso provocava a repressão policial: o interrompimento de lutas ( até o início do século XX era comum a polícia subir no ringue e parar a luta; o campeão mundial dos pesados Jack Johnson teve algumas vitórias declaradas "por interrupção da polícia" ), o aprisionamento dos lutadores ( John Sullivan foi preso várias vezes ), bem como fêz com que muitos chefes de polícia proibissem o ensino e prática do boxe em suas jurisdições.

Contudo, essa repressão teve seu lado bom: ela ocasionou a maioria das modificações de regras que o boxe teve ao longo dos tempos e que lhe permitiram evoluir esportivamente.

Só recentemente foi proibida a luta de agarramento no boxe

Até pouco mais de cem anos, antes das Regras de Queensberry, o fato de os lutadores não usarem luvas fazia com que o ritmo das lutas fosse muito mais lento do que atualmente. Todo soco dado machucava muito tanto a quem dava como a quem recebia. Como consequência, muito poucos socos eram aplicados durante a luta: os lutadores tinham grande preocupação com a defesa e só usavam os punhos quando achavam que o soco poderia ser aplicado perfeitamente. Grande parte do tempo das lutas, principalmente depois dos primeiros rounds, era gasto com manobras defensivas e com agarramentos visando desgastar o adversário segurando-o com uma mão e batendo com a outra ou procurando sua projeção ao chão para então chutá-lo ( era o que se chamava de purring ).

A sequência de figuras abaixo mostra algumas características do boxe francês, uma mistura do savate com o boxe inglês, como praticado há cerca de duzentos anos. Além de observar a curiosa guarda e o uso de desvios ( parries ) como defesa dos socos, note o uso de golpes de luta de agarramento. A técnica de projeção aí mostrada é uma variante do "cross buttock" que era a mais popular projeção do boxe inglês até o final do século XIX.

O boxe sempre fascinou membros de todas as classes sociais

Quanto a isso, é importante apontar que esse fascínio tem algo de paradoxal na medida em que embora a classe média tendesse a abominar o boxe, a elite e a classe pobre sempre o apoiaram e sustentaram. Por exemplo, numa das lutas mais famosas de todos os tempos, a de Heenan versus Sayers em 1860, o parlamento inglês não teve quorum no dia do combate e isso que todo o mundo sabia que a polícia proibira o evento e prometera recorrer à violência para impedir a realização do mesmo. Aliás, talvez quem melhor caracterizasse esse paradoxo tenha sido o Duque de Clarence que, ao ser indagado do que fazia misturado com a ralé que apostava numa luta, respondeu que "estava ali como inglês e não como lord".

O apoio da aristocracia inglesa permitiu o boxe evoluir tecnicamente, tanto pelo patrocínio oferecido aos lutadores como pela abertura de academias que eram frequentadas pela nobreza. Por outro lado, as maiores perseguições que o boxe sofreu partiram de membros da classe média e ocorreram principalmente na época dos puritanos e na Era Victoriana.

Foram raras as perseguições do boxe oriundas de membros da aristocracia inglesa. O exemplo mais importante sendo consequência da luta entre Broughton e Jack Slack, em 1750, e na qual o temperamental Duque de Cumberland perdeu uma aposta de 10 000 libras esterlinas, uma enorme quantia na época. Suspeitando que tivesse sido vítima de uma "marmelada", o duque fêz com que o parlamento britânico fechasse todas as academias e locais de lutas de boxe e tornasse sua prática proibida. Essas medidas fizeram o boxe inglês mergulhar na clandestinidade por quase quarenta anos, sendo que por muito pouco não desapareceu definitivamente.

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